Era uma vez, um pássaro. ele vivia numa bela ilha, com muitos coqueiros e água azul. Nessa ilha nunca chovia. Era sempre sol e todos os pássaros cantavam felizes ao pôr-do-sol, proclamando para o sol e a lua que eram livres.
Mas nosso pássaro não cantava. Muito menos voava. Ele estava preso numa gaiola, ali, sozinho, no meio da ilha. Ninguém nunca soube como ele foi parar ali, nem ele mesmo. simplesmente estava. Preso. O pássaro da gaiola.
Todos os outros pássaros olhavam para ele e sentiam pena, porque podiam voar e estender suas asas para abraçar o infinito céu enquanto ele tinha que ficar ali, só olhando. O maior desejo do pássaro era sair e voar com os outros. Ser livre. E a cada dia esse desejo aumentava mais, apertando seu coração.
Um dia, chegou na ilha uma tartaruga muito sábia e que dizia ter lá seus 120 anos. Dizem que as tartarugas vivem muito mesmo, é sim. Mas aquela em especial, era tão mais sábia do que um velho monge e sabia dar conselhos muito bem. Todos os animais da ilha se amontoavam ao seu redor, com os olhos esbugalhados de curiosidade, para ouvir o que ela tinha a dizer.
Todos viam e ouviam atentos, mas o pássaro não podia, porque estava preso e suas asas atadas há muito. Ele olhava desolado a amontoação e suspirava, conformado com o seu destino.
A tartaruga, como se já soubesse, se aproximou da gaiola e falou num tom doce, como o de uma velha avó que acolhe o neto:
- O problema, n!ao está aqui - e bateu nas grades - está dentro de você.
Dito isso, mergulhou no mar sem dar mais explicações e sumiu, deixando o pássaro de bico aberto e sem mais respostas do que isso.
Durante os outros dias, o pássaro refletiu sobre o que a tartaruga disse. Qual era o problema dentro dele? Qual era?
Decidiu então perguntar ao sol.
- Senhor Sol! Senhor Sol! Qual é o problema que há dentro de mim? - mas o Sol não soube responder.
Resolveu então perguntar para a Lua e seu exército de estrelinhas.
- Lua! Lua! Ei, ei! Estrelinhas! Qual o problema que há dentro de mim? - mas elas também não souberam responder.
E assim foi. Com o vento.
Com a areia.
Com a água do mar.
Ninguém sabia responder qual o problema que havia dentro do pobre passarinho.
Um dia, vendo mais uma vez todos os pássaros voando, ele se cansou. Cansou de não fazer nada. Cansou de simplesmente aceitar tudo aquilo. Ele bateu as asas com toda a força que pode e a gaiola abriu.
E voou pelo céu, como não se lembrava de ter feito jamais. Agora era livre.
O problema que havia dentro dele, é que ele simplesmente aceitava o seu destino. Aceitava que ia ficar ali preso. Na verdade, a gaiola estava velha e enferrujada e por qualquer coisa quebraria. Ele só precisava querer.
E assim é com nós. Não podemos aceitar as gaiolas que os outros nos colocam. Precisamos nos libertar.
(Essa é pra você, mãe.)
